Ortopedia

Síndrome Femoropatelar (Condromalácia Patelar): dor na frente do joelho tem solução? Entenda causas, sintomas e os melhores tratamentos

Síndrome Femoropatelar

Por Dr. Carlos Eugênio Silva Martins

Northos – Núcleo Avançado de Ortopedia
Pós-graduado em Ortopedia e Traumatologia, Clínica da Dor e Intervenção em Dor

Aviso importante: Este conteúdo é educativo e não substitui consulta médica. Cada pessoa é única. Procure avaliação especializada para diagnóstico e tratamento adequados ao seu caso.


Visão geral

A síndrome femoropatelar, também conhecida como condromalácia patelar, é uma das causas mais comuns de dor na frente do joelho. Ela acontece quando a cartilagem atrás da patela (rótula) sofre sobrecarga ou desgaste, gerando dor, sensação de “areia” ou “rangido” ao movimentar o joelho e desconforto ao subir/descer escadas, agachar ou permanecer muito tempo sentado.

A boa notícia: na maioria dos casos, o tratamento é conservador (sem cirurgia) e traz excelente alívio quando feito de forma estruturada, com ajuste de atividades, fisioterapia e, quando indicado, terapias complementares como ácido hialurônico, ortobiológicos, ondas de choque, laser de alta intensidade e campo magnético.


O que é a síndrome femoropatelar (condromalácia patelar)?

  • A patela desliza sobre o fêmur em um “trilho”. Se esse movimento perde alinhamento ou se há sobrecarga, a cartilagem patelar pode inflamar e se desgastar, causando dor.
  • “Condromalácia” descreve amolecimento/sofrimento da cartilagem; “síndrome femoropatelar” é o termo clínico que abrange dor e disfunção nessa região, com ou sem lesões visíveis de cartilagem.

Sintomas mais comuns

  • Dor na parte da frente do joelho (dor anterior).
  • Pior com escadas, ladeiras, agachamentos, corrida (principalmente descidas) e levantar após ficar muito tempo sentado.
  • Crepitação (“estalidos” ou “areia” ao dobrar o joelho).
  • Sensação de fraqueza ou “falsa instabilidade”.
  • Inchaço leve após esforços.

Por que acontece? Principais causas e fatores de risco

  • Sobrecarga e repetição sem preparo adequado (corrida, treinos intensos, mudanças bruscas no volume de treino).
  • Alterações de força e controle do quadril e joelho (fraqueza de glúteos e quadríceps, principalmente em movimentos funcionais).
  • Alinhamento da patela (inclinação, lateralização) e anatomia do joelho (troclea rasa, patela alta).
  • Pés com excesso de pronação, encurtamentos musculares (isquiotibiais, panturrilha, banda iliotibial).
  • Sobrepeso, sedentarismo, histórico de traumas ou instabilidade patelar.

Como é feito o diagnóstico

  • Avaliação clínica detalhada: exame físico, testes de patela, análise de marcha e padrão de movimento.
  • Exames de imagem quando necessário:
    • Radiografias com incidência para articulação femoropatelar (por exemplo, “skyline/Merchant”).
    • Ressonância magnética para avaliar cartilagem, edema ósseo, tendões e estruturas de estabilização.
  • O diagnóstico é, sobretudo, clínico; a imagem complementa e ajuda a definir o melhor plano.

Tratamento convencional (primeira linha)

Na maior parte dos casos, a melhora acontece com medidas não cirúrgicas, normalmente em 6 a 12 semanas, com progresso contínuo ao longo de 3 a 6 meses.

1) Educação e ajuste de atividades

  • Reduzir temporariamente atividades que piorem a dor (agachamentos profundos, corridas em descida, saltos).
  • Manter o corpo ativo com exercícios que não provoquem dor (bicicleta ergométrica com carga leve, elíptico, natação, caminhada plana).
  • Retorno gradual ao esporte, respeitando sintomas.

2) Fisioterapia focada em função e controle

  • Objetivos: reduzir dor, melhorar o controle do joelho, fortalecer quadríceps e glúteos (abdução/rotação externa do quadril), estabilizar core e corrigir padrões de movimento.
  • Exercícios comuns:
    • Cadeia cinética fechada com ângulos confortáveis (mini-agachamento, leg press com pouca amplitude, avanço curto).
    • Fortalecimento de glúteos (ponte, abdução, passos laterais com elástico).
    • Alongamentos específicos (isquiotibiais, panturrilha, quadríceps, banda iliotibial).
    • Treino neuromuscular (controle de valgo dinâmico).
  • Tempo e frequência: 2–3 sessões semanais + exercícios em casa. Progressão guiada pela dor (0–2/10 é aceitável durante e após o treino).

3) Medicações e medidas de suporte

  • Analgésicos e anti-inflamatórios por curto período, quando indicados.
  • Gelo por 10–15 minutos após esforço, conforme necessidade.
  • Taping patelar (ex.: McConnell) e joelheiras estabilizadoras podem aliviar sintomas em fases iniciais.
  • Palmilhas sob medida ajudam quando há alterações de pisada (excesso de pronação).

4) Estilo de vida

  • Controle de peso: mesmo pequenas reduções diminuem a carga na articulação.
  • Sono e manejo do estresse: favorecem recuperação tecidual.
  • Progressão inteligente do treino: regra de 10% de aumento semanal de carga/volume.

Tratamentos com infiltrações e tecnologias adjuvantes

Importante: essas terapias são escolhidas caso a caso, após avaliação clínica e de imagem. Servem como complemento ao programa de reabilitação, não como substitutos da fisioterapia e do controle de cargas.

Ácido hialurônico (viscossuplementação)

  • O que é: um “lubrificante” intra-articular que melhora a viscosidade do líquido sinovial.
  • Quando considerar: dor persistente apesar do tratamento básico, sinais de sobrecarga da cartilagem femoropatelar, crepitação e derrame leve.
  • Benefícios esperados: melhora da dor e da função por alguns meses em parte dos pacientes; efeito varia conforme o perfil clínico.
  • Procedimento: realizado em consultório, guiado por técnica asséptica; retorno rápido às atividades leves.

Ortobiológicos (por exemplo, PRP – Plasma Rico em Plaquetas)

  • O que são: concentrados do próprio sangue do paciente (ou outros derivados) com fatores de crescimento que podem modular inflamação e favorecer reparo tecidual.
  • Indicações possíveis: dor femoropatelar com sinais de sinovite/edema ósseo, lesões condrais patelares/femorais, casos refratários ao convencional.
  • Evidências: resultados variam; há estudos mostrando melhora de dor e função em subgrupos. A escolha da técnica (número de aplicações, preparo) é individualizada.
  • Considerações: período de reabilitação continua sendo essencial para consolidar ganhos.

Terapia por Ondas de Choque (ESWT)

  • O que é: aplicação de ondas acústicas de alta energia em pontos específicos para modular dor e estimular metabolismo tecidual.
  • Indicações: dor persistente, especialmente associada a tendinopatia patelar ou pontos de sobrecarga ao redor da patela.
  • O que esperar: sessões semanais por 3–6 semanas; melhora progressiva em parte dos pacientes. Pode haver sensibilidade local transitória.
  • Observação: a evidência é mais robusta para tendinopatias; na dor femoropatelar, atua como adjuvante em casos selecionados.

Terapia com Laser de Alta Intensidade (HILT)

  • O que é: feixe de luz de alta energia com efeito analgésico e anti-inflamatório, promovendo fotobiomodulação.
  • Indicações: dor persistente, sinovite/irritação patelofemoral, sensibilidade em retináculos e tendão.
  • Benefícios: alívio de dor de curto prazo e apoio à progressão da fisioterapia em alguns casos.

Terapia com Campo Magnético (PEMF – campo eletromagnético pulsado)

  • O que é: estimulação eletromagnética de baixa frequência que pode modular inflamação e edema ósseo.
  • Indicações: dor crônica, sinais de edema subcondral ou sobrecarga de cartilagem; alternativa não invasiva.
  • O que esperar: sessões seriadas; objetivo é reduzir dor e facilitar ganho funcional. Evidência mais consolidada em artrose; no femoropatelar, uso é complementar.

Quando considerar cirurgia

A cirurgia é reservada para casos com falha do tratamento bem conduzido e/ou alterações anatômicas importantes que mantêm a sobrecarga.

Possíveis procedimentos (selecionados conforme a causa)

  • Artroscopia para limpeza/regularização de lesões condrais (condroplastia) e tratamento de sinovite localizada.
  • Reconstrução de ligamento patelofemoral medial (MPFL) em casos de instabilidade/luxações recorrentes da patela.
  • Transferência da tuberosidade tibial (ex.: osteotomia tipo Fulkerson) para melhorar o alinhamento e descarregar a faceta sobrecarregada.
  • Tratamento de lesões de cartilagem focais (microfraturas, enxertos osteocondrais, técnicas de cultivo celular/implante condrocitário em casos selecionados).
  • Lateral release isolado raramente é indicado; é individualizado e associado a outras correções quando necessário.

Recuperação

  • Fisioterapia estruturada é imprescindível após qualquer procedimento.
  • Tempo de retorno a atividades varia conforme a técnica (semanas a meses).
  • Objetivo: diminuir dor, melhorar alinhamento/biomecânica e preservar a cartilagem a longo prazo.

Dicas práticas para o dia a dia

  • Ajuste da cadeira: manter joelhos em 90° ou levemente estendidos para evitar desconforto ao ficar muito tempo sentado.
  • Escadas: prefira elevador nas fases de dor; ao usar escadas, desça com cuidado e suba com apoio no corrimão.
  • Agachamento: reduzir profundidade no início; progredir conforme a dor permitir.
  • Treino: alternar dias de maior carga com dias leves; evitar aumentar volume e intensidade ao mesmo tempo.
  • Calçados: com bom amortecimento; palmilhas se indicadas.
  • Sinais de alerta: dor que não melhora com repouso, travamentos, instabilidade, inchaço importante – procure avaliação.

Prevenção e retorno ao esporte

  • Fortalecimento de quadríceps e glúteos é a base da prevenção.
  • Treino de técnica: aterrissagem de saltos com joelhos alinhados, corrida com cadência adequada e progressão gradual.
  • Mobilidade e flexibilidade: manter alongamentos regulares.
  • Periodização: planejar semanas de “deload” para recuperação.

Perguntas frequentes (FAQ)

  1. Condromalácia patelar “gasta” o joelho para sempre?
  • Nem sempre. O termo descreve sofrimento/alteração da cartilagem, que pode estabilizar e ser controlada com reabilitação, controle de cargas e, quando preciso, terapias adjuvantes.
  1. Posso continuar correndo?
  • Na fase dolorosa, ajuste a carga (reduzir distância, evitar descidas). Com fisioterapia e melhora dos sintomas, muitos pacientes retornam gradualmente à corrida.
  1. Joelheira ajuda?
  • Alguns modelos com estabilização patelar e “janela” anterior trazem alívio durante atividades. Não substitui fortalecimento e controle de movimento.
  1. O ácido hialurônico ou PRP “curam” a condromalácia?
  • Não são “cura”, mas podem melhorar dor e função em casos selecionados. Funcionam melhor quando combinados com um programa de reabilitação.
  1. Quanto tempo até melhorar?
  • Muitos pacientes notam melhora em 6–12 semanas de tratamento consistente, com ganhos adicionais nos meses seguintes.

Conclusão

A síndrome femoropatelar é tratável. Com diagnóstico preciso, educação, fisioterapia direcionada e, quando indicado, terapias como ácido hialurônico, ortobiológicos, ondas de choque, laser de alta intensidade e campo magnético, é possível reduzir a dor, proteger a cartilagem e voltar às suas atividades com segurança. O plano deve ser individualizado, de acordo com o seu joelho, sua rotina e seus objetivos.


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Sobre o autor

Dr. Carlos Eugênio Silva Martins
Northos – Núcleo Avançado de Ortopedia
Pós-graduado em Ortopedia e Traumatologia, Clínica da Dor e Intervenção em Dor