Ortopedia

Fasciite plantar: causas, sintomas e tratamentos (convencionais, ortobiológicos, ondas de choque, laser e campo magnético)

Fascite Plantar

Este conteúdo é informativo e não substitui uma consulta médica. Cada caso é único. Agende uma avaliação para um diagnóstico correto e um plano de tratamento personalizado.

A fasciite plantar é uma das causas mais comuns de dor no calcanhar. Ela acontece quando a fáscia plantar — uma faixa espessa de tecido que vai do calcanhar até os dedos — fica inflamada ou sobrecarregada. É muito frequente em quem fica muito tempo em pé, pratica corrida, tem sobrepeso, usa calçados sem suporte ou apresenta encurtamento da panturrilha.

Muita gente associa a dor ao “esporão de calcâneo”. O esporão pode aparecer em exames, mas ele é consequência da tração crônica na região e, na maioria das vezes, não é a causa principal da dor. O alvo do tratamento é a fáscia plantar e os fatores que a sobrecarregam.

Principais sintomas

  • Dor no calcanhar ao acordar e dar os primeiros passos (dor em “facada” que pode melhorar ao longo do dia)
  • Dor após ficar muito tempo sentado e levantar
  • Piora ao final do dia ou após atividades de impacto
  • Sensibilidade ao pressionar a base do calcanhar

Por que acontece? Fatores de risco

  • Aumento recente de treino (corrida, caminhada, pular corda)
  • Ficar em pé por longas horas (trabalho)
  • Calçados gastos ou sem suporte do arco
  • Encurtamento da panturrilha (gastrocnêmio/solear)
  • Pés cavos ou planos, alteração de marcha
  • Sobrepeso e ganho de peso rápido

Como é feito o diagnóstico?

Na grande maioria dos casos, o diagnóstico é clínico, com base na história e no exame físico. Ultrassonografia e ressonância magnética podem ser úteis em casos persistentes, para avaliar espessamento da fáscia, microlesões e descartar outras causas de dor.


Tratamento: do básico ao avançado

A boa notícia: cerca de 80–90% dos pacientes melhoram com tratamento conservador em 6 a 12 meses quando seguem um plano bem estruturado. Para casos que não respondem, existem opções avançadas, incluindo terapias ortobiológicas e procedimentos. Abaixo, organizo as principais etapas.

1) Tratamento conservador (primeira linha)

  1. Educação e ajuste de atividades
    • Reduzir temporariamente impacto (corrida, saltos) e trocar por atividades de baixo impacto (bike, natação).
    • Evitar ficar longos períodos descalço em pisos duros.
  2. Calçados e palmilhas
    • Calçados com bom amortecimento e suporte do arco.
    • Palmilhas com apoio do arco e almofada para o calcanhar ajudam a distribuir carga.
  3. Alongamentos (2–3x ao dia)
    • Alongamento específico da fáscia plantar: sentado, cruze a perna afetada sobre a outra, segure os dedos do pé e puxe-os em direção à canela por 30–45 segundos, 3–5 repetições.
    • Alongamento da panturrilha: de frente para a parede, perna afetada atrás, calcanhar no chão, joelho estendido. Sustente 30–45 segundos, 3–5 repetições. Repita com o joelho levemente flexionado para alongar o sóleo.
    • Rolo na sola do pé com garrafa congelada ou bola de tênis por 5–10 minutos, especialmente ao final do dia.
  4. Fisioterapia
    • Técnicas manuais, liberação miofascial, treino de força para panturrilha, tibial posterior e intrínsecos do pé.
    • Fortalecimento progressivo e reeducação de marcha.
  5. Taping e órtese noturna
    • Taping (bandagem) pode aliviar a dor no dia a dia.
    • Órtese noturna (night splint) mantém a fáscia em leve alongamento durante o sono e reduz a dor matinal.
  6. Controle de dor
    • Gelo 10–15 minutos após atividades.
    • Anti-inflamatórios e analgésicos podem ser considerados por curto período, conforme orientação médica.
    • Perda de peso, quando aplicável, reduz a carga na fáscia.

Observação sobre corticoide: infiltração com corticoide pode aliviar dor a curto prazo, mas aumenta risco de ruptura da fáscia e atrofia de coxim gorduroso se repetida. Em geral, hoje priorizamos outras opções antes de considerar corticoide.


2) Terapias avançadas e ortobiológicas

Se após 8–12 semanas de um protocolo conservador bem feito a dor persiste, avaliamos opções minimamente invasivas. A indicação é individualizada.

  1. PRP (Plasma Rico em Plaquetas)
    • O que é: concentrado das suas próprias plaquetas, com fatores de crescimento que podem modular inflamação e estimular reparo tecidual.
    • Como é feito: coleta de sangue, preparo do PRP e aplicação guiada por ultrassom na região da fáscia.
    • Benefícios esperados: melhora gradual da dor e função em semanas a meses, principalmente em casos crônicos que falharam no conservador.
    • Efeitos colaterais: dor transitória após o procedimento, inchaço; complicações graves são raras.
    • Observação: a literatura mostra resultados promissores, mas variáveis entre protocolos e pacientes.
  2. BMA (Aspirado de Medula Óssea)
    • O que é: material obtido da medula óssea (geralmente da pelve), rico em células e fatores bioativos que podem auxiliar na modulação de reparo.
    • Indicação: casos crônicos refratários, quando outras medidas falharam.
    • Considerações: procedimento mais invasivo que PRP; decisão compartilhada após avaliação de riscos e benefícios.
  3. Ácido hialurônico (AH)
    • O que é: substância viscoelástica usada há anos em articulações; estudos recentes investigam seu uso na fáscia plantar para reduzir dor e melhorar deslizamento tecidual.
    • Evidência: ainda em construção; alguns pacientes relatam alívio. Pode ser alternativa quando se busca evitar corticoide.
    • Efeitos adversos: dor local temporária, raramente reação inflamatória.
  4. Terapia por Ondas de Choque (ESWT)
    • O que é: ondas acústicas aplicadas na região dolorosa para estimular neovascularização, modulação da dor e reparo.
    • Indicação: excelente opção para fasciite plantar crônica refratária ao conservador.
    • Protocolo: geralmente 3–6 sessões semanais; sem necessidade de afastamento prolongado.
    • Resultados: boa taxa de melhora da dor e função ao longo de 6–12 semanas.
  5. Terapia com Laser de Alta Intensidade (HILT)
    • O que é: laser terapêutico de alta potência que visa reduzir inflamação e dor e estimular reparo tecidual.
    • Protocolo: sessões seriadas na fisioterapia, indolor e rápida.
    • Evidência: resultados clínicos positivos em muitos pacientes como adjuvante; resposta individual varia.
  6. Terapia com Campo Magnético (PEMF)
    • O que é: campos eletromagnéticos pulsados de baixa intensidade aplicados para modular processos biológicos.
    • Uso: adjuvante ao programa de reabilitação, com perfil de segurança favorável.
    • Evidência: emergente; pode ajudar na dor em alguns casos, geralmente como parte de um pacote multimodal.

Escolha da terapia: a decisão leva em conta tempo de sintomas, resposta ao conservador, profissão, esporte, exames de imagem e preferências do paciente. Muitas vezes combinamos fisioterapia focada + uma terapia avançada (por exemplo, ondas de choque) para acelerar resultados.


3) Tratamento cirúrgico

A cirurgia é reservada para casos que não melhoram após, em média, 6–12 meses de tratamento bem conduzido.

  • Procedimentos mais utilizados:
    • Fasciotomia plantar parcial: liberação controlada de uma parte da fáscia para reduzir tensão.
    • Recessão gastrocnêmica: alongamento cirúrgico da panturrilha quando o encurtamento é um fator importante.
  • Recuperação:
    • Uso de bota imobilizadora por período curto, progressão de carga conforme dor e cicatrização.
    • Fisioterapia pós-operatória é fundamental.
  • Riscos e considerações:
    • Persistência de dor, alteração do arco do pé, lesão nervosa, cicatriz dolorosa (incomuns, mas possíveis).
    • Taxas de sucesso são geralmente boas em casos bem indicados, mas não garantidas.

Prevenção de recidivas

  • Mantenha alongamentos de panturrilha e fáscia plantar mesmo após a melhora.
  • Troque tênis de corrida a cada 500–700 km (ou quando o amortecimento “morre”).
  • Use palmilhas e calçados adequados para seu tipo de pé e atividade.
  • Retorne às atividades de impacto de forma gradual, com progressões semanais pequenas (ex.: 10–15%).
  • Trabalhe fortalecimento do pé e tornozelo (intrínsecos do pé, panturrilha, tibial posterior).

Perguntas frequentes (FAQ)

  1. Fasciite plantar sempre tem “esporão”?
    Não. O esporão pode aparecer em exames, mas não é a causa principal da dor na maioria dos casos.
  2. Preciso ficar parado totalmente?
    Não necessariamente. Ajustes temporários, substituindo impacto por atividades de baixo impacto, costumam ser suficientes.
  3. Alongar dói. Devo parar?
    Um leve desconforto é esperado, mas dor forte não. Reduza a intensidade e mantenha regularidade.
  4. Palmilhas resolvem sozinhas?
    Elas ajudam muito, mas funcionam melhor combinadas com alongamento e fortalecimento.
  5. PRP e BMA são “cura garantida”?
    Não. São opções promissoras para casos crônicos, com bons resultados em muitos pacientes, mas a resposta é individual.
  6. Ondas de choque doem?
    Durante a sessão pode haver desconforto, geralmente tolerável e de curta duração.
  7. Laser de alta intensidade e campo magnético substituem fisioterapia?
    Não. São adjuvantes. O pilar segue sendo reabilitação bem direcionada.

Quando procurar um especialista?

  • Dor que não melhora após 2–4 semanas de medidas básicas
  • Dificuldade para apoiar o pé ao acordar
  • Limitação para trabalhar, treinar ou realizar atividades diárias
  • Falha do tratamento conservador após 8–12 semanas
  • Suspeita de outras causas de dor no calcanhar

Na Northos – Núcleo Avançado de Ortopedia, oferecemos avaliação detalhada, protocolo de reabilitação individualizado e acesso a terapias avançadas quando indicadas (PRP, BMA, ácido hialurônico, ondas de choque, laser de alta intensidade e campo magnético), sempre com acompanhamento médico e de fisioterapia.

Sobre o autor

Autor: Dr. Carlos Eugênio Silva Martins
Clínica: Northos – Núcleo Avançado de Ortopedia
Formação: Pós-graduado em Ortopedia e Traumatologia, Clínica da Dor e Intervenção em Dor.