Ortopedia

Tenossinovite de De Quervain: causas, sintomas e tratamentos (incluindo infiltração com corticoide e ácido hialurônico)

Tenossinovite de De Quervain

A tenossinovite de De Quervain é uma inflamação dos tendões que movimentam o polegar na região do punho. Ela pode causar dor ao segurar o celular, levantar o bebê, abrir potes, digitar, treinar na academia ou realizar atividades repetitivas. A boa notícia é que há tratamentos eficazes, que vão desde medidas simples em casa até procedimentos no consultório — como a infiltração com corticoide e, em casos selecionados, a infiltração com ácido hialurônico — e, quando necessário, cirurgia com alto índice de sucesso.

Aviso importante: Este conteúdo é informativo e não substitui consulta médica. Procure avaliação presencial para diagnóstico e tratamento adequados, especialmente se a dor estiver intensa, persistente ou limitando suas atividades.


O que é a tenossinovite de De Quervain?

  • É a inflamação da bainha (a “capa” que envolve o tendão) dos tendões que estendem e afastam o polegar: abdutor longo do polegar e extensor curto do polegar, no primeiro compartimento do dorso do punho.
  • Com a inflamação, o tendão “raspa” na bainha, gerando dor, inchaço e às vezes um estalido ao movimentar o polegar.

Sintomas mais comuns

  • Dor na base do polegar, do lado do punho (lado do rádio).
  • Dor ao segurar objetos, abrir potes, torcer panos, levantar o bebê pelo dorso do punho ou rolar a tela do celular.
  • Sensibilidade local e possível inchaço.
  • Diminuição da força de pinça e preensão.
  • Dor provocada pelo teste de Finkelstein (quando o polegar é fechado na palma e o punho é desviado em direção ao dedo mínimo).

Quem tem mais risco

  • Pais e mães no puerpério (pelo esforço repetido ao segurar e posicionar o bebê).
  • Profissionais e atividades com movimentos repetitivos do polegar e punho: digitadores, profissionais de saúde, cabeleireiros, cozinheiros, atletas, gamers e artesãos.
  • Uso intenso de smartphone.
  • Fatores individuais: anatomia do compartimento, doenças inflamatórias, sobrecarga súbita ou crônica, diabetes.

Como é feito o diagnóstico

  • É clínico, na maioria das vezes, por meio da história e exame físico (incluindo testes específicos como Finkelstein e Eichhoff).
  • Exames de imagem podem ajudar em casos duvidosos:
    • Ultrassonografia: mostra espessamento de bainha, líquido e pode orientar procedimentos.
    • Ressonância magnética: raramente necessária, reservada para diagnósticos diferenciais.

Tratamentos: do conservador às infiltrações e cirurgia

O tratamento costuma ser escalonado. A escolha depende do tempo de sintomas, intensidade da dor, impacto nas atividades e resposta às medidas iniciais.

1) Medidas conservadoras (primeira linha)

  • Repouso relativo e ajuste de atividades
    • Reduzir movimentos repetitivos de pinça e torção; alternar mãos; adaptar tarefas do dia a dia.
  • Órtese imobilizadora do polegar e punho (tala)
    • A órtese que imobiliza polegar e punho pode ser usada por 2 a 4 semanas, inclusive em picos de dor, retirando para higiene e exercícios orientados.
  • Gelo ou calor
    • Gelo 10 a 15 minutos, 2 a 3 vezes ao dia, nos primeiros dias mais dolorosos. Calor suave pode ajudar antes de exercícios.
  • Medicação analgésica e anti-inflamatória
    • Pode ser útil por curto período, conforme prescrição médica. Evite automedicação, especialmente se tiver gastrite, refluxo, problemas renais ou usar anticoagulantes.
  • Fisioterapia e terapia da mão
    • Técnicas de analgesia, terapia manual, mobilizações, treino de proteção articular e correção de padrões de movimento.
    • Exercícios terapêuticos específicos para polegar e punho, progresso gradual de carga e orientação ergonômica.
  • Ajustes ergonômicos
    • Elevar o celular ao nível dos olhos, usar as duas mãos para digitar, pausas a cada 40 a 60 minutos, suportes para teclado e mouse, evitar torções vigorosas.

Quando essas medidas são bem seguidas, muitas pessoas melhoram em 2 a 6 semanas.

2) Infiltrações no consultório

Quando a dor persiste ou limita muito as atividades, as infiltrações podem acelerar a recuperação. Idealmente, são realizadas com técnica asséptica e, quando disponível, guiadas por ultrassom para maior precisão.

  • Infiltração com corticoide (corticosteroide/corticoide)
    • O que é: aplicação de pequena quantidade de corticoide dentro da bainha do tendão para reduzir a inflamação local.
    • Benefícios: costuma proporcionar alívio significativo da dor; estudos relatam altas taxas de melhora clínica após uma ou duas aplicações.
    • Quando indicada: dor persistente apesar de medidas conservadoras; recidivas; comprometimento funcional.
    • Como é feita: procedimento ambulatorial, geralmente rápido. A dor pode reduzir em 48 a 72 horas, com melhora progressiva na semana seguinte.
    • Possíveis efeitos colaterais: dor transitória após o procedimento, pequena equimose, raramente infecção; despigmentação ou afinamento da pele no local; em diabéticos, elevação temporária da glicose; risco de recidiva se mantida a sobrecarga.
    • Observação: muitas vezes combinada com reforço de fisioterapia e orientação ergonômica para manter o resultado.
  • Infiltração com ácido hialurônico
    • O que é: aplicação de ácido hialurônico na bainha tendínea com objetivo de “lubrificar” e reduzir o atrito, auxiliando a mecânica do tendão.
    • Benefícios potenciais: melhora do deslizamento do tendão, redução de dor e rigidez, especialmente em casos crônicos ou que não toleraram corticoide.
    • Quando considerar: casos selecionados, recidivantes, pacientes com contraindicação relativa a corticoide ou como estratégia de reabilitação para reduzir atrito durante o retorno às atividades.
    • Observações importantes: a evidência científica está em expansão; a indicação deve ser individualizada; pode ser realizada de forma isolada ou em associação a outras medidas (órtese, fisioterapia).
    • Efeitos colaterais: dor leve e transitória no local, pequeno inchaço; complicações são raras quando feita com técnica adequada.

A decisão entre corticoide e ácido hialurônico é compartilhada entre médico e paciente, considerando histórico clínico, preferências, comorbidades e objetivo funcional.

3) Outros procedimentos

  • Bloqueios analgésicos locais, quando indicados para controle de dor em fases muito agudas.
  • Terapias complementares podem ser discutidas caso a caso; a evidência varia.

4) Cirurgia (quando necessária)

  • Indicação: casos que não melhoram com tratamento conservador e infiltrações, dor persistente e limitação funcional importante.
  • Procedimento: liberação do primeiro compartimento extensor, criando espaço adequado para os tendões deslizarem sem atrito.
  • Como é feita: geralmente com anestesia local ou regional, em regime de hospital-dia. A incisão é pequena, e a reabilitação começa precocemente.
  • Recuperação: retorno a atividades leves costuma ocorrer em 1 a 2 semanas; atividades mais vigorosas entre 4 e 6 semanas, conforme orientação.
  • Riscos possíveis: infecção (raro), dor residual, cicatriz sensível, lesão do ramo sensitivo do nervo radial (incomum), necessidade de reabilitação específica.

Exercícios e cuidados práticos (com orientação profissional)

  • Alongamentos suaves do polegar e punho, sem provocar dor intensa.
  • Fortalecimento progressivo dos músculos do antebraço e estabilizadores do punho.
  • Educação para reduzir movimentos de pinça sustentada e torção repetitiva.
  • Pausas programadas no trabalho e no uso do celular.
  • Uso intermitente da órtese em crises dolorosas.

Importante: exercícios devem ser individualizados por fisioterapeuta/terapeuta da mão. Evite “copiar” rotinas da internet sem avaliação, pois podem piorar a dor.


Quando procurar avaliação

  • Dor que persiste por mais de 2 a 3 semanas mesmo com medidas simples.
  • Dor que atrapalha sono, trabalho, cuidados com o bebê ou treino.
  • Inchaço, formigamento ou perda de força no polegar e punho.
  • Recorrência frequente após períodos de melhora.

Perguntas frequentes

  • Tenossinovite de De Quervain pode melhorar sozinha?
    • Em casos leves e recentes, pode haver melhora com descanso e ajuste de atividades. Porém, sem tratar a causa (sobrecarga), as recidivas são comuns. Avaliação precoce ajuda a encurtar o tempo de recuperação.
  • Infiltração com corticoide dói? E é segura?
    • A picada pode causar desconforto rápido, mas o procedimento é geralmente bem tolerado. Quando indicado e realizado com técnica adequada, é considerado seguro, com baixa taxa de complicações.
  • E a infiltração com ácido hialurônico, funciona?
    • Em alguns pacientes, especialmente em casos crônicos ou recidivantes, o ácido hialurônico pode ajudar reduzindo o atrito do tendão. A indicação é individual e baseada na avaliação clínica.
  • Posso fazer infiltração amamentando?
    • Muitas infiltrações com corticoide local têm mínima absorção sistêmica, mas a decisão durante a amamentação deve ser individualizada. Converse com seu médico para avaliar riscos e benefícios no seu caso.
  • Preciso parar de treinar?
    • Em fases agudas, ajustes de treino e repouso relativo são importantes. Com melhora da dor e orientação profissional, é possível retomar gradualmente, priorizando técnica e prevenção de sobrecarga.

Autor

Autor: Dr. Carlos Eugênio Silva Martins
Clínica: Northos – Núcleo Avançado de Ortopedia
Formação: Pós-graduado em Ortopedia e Traumatologia, Clínica da Dor e Intervenção em Dor.

Resumo: A tenossinovite de De Quervain é uma inflamação dolorosa dos tendões do polegar. O tratamento começa com medidas conservadoras, podendo incluir órtese, fisioterapia e ajustes de atividade. Quando necessário, as infiltrações com corticoide ou com ácido hialurônico oferecem alívio e melhoram o deslizamento tendíneo. Casos refratários têm boa resposta à cirurgia. Procure avaliação especializada para um plano de tratamento personalizado.