Ortopedia

Tendinopatia de Aquiles: sintomas, causas e tratamentos modernos (infiltrações, ondas de choque, laser e campo magnético)

Tendinite de Aquiles

A tendinopatia de Aquiles — popularmente chamada de “tendinite de Aquiles” — é uma das causas mais comuns de dor no calcanhar e atrás do tornozelo, especialmente em quem corre, joga futebol, tênis, faz crossfit ou aumentou o nível de atividade física recentemente. A boa notícia: na maioria dos casos, há tratamento eficaz sem cirurgia quando a abordagem é correta e personalizada.

Este conteúdo é informativo e não substitui consulta médica. Para diagnóstico e tratamento adequados, procure avaliação com um profissional qualificado.


O que é a tendinopatia de Aquiles?

É uma alteração do tendão calcâneo (ou tendão de Aquiles) que pode ocorrer:

  • Na porção média do tendão (mais comum)
  • Na inserção, onde o tendão gruda no osso do calcanhar (frequentemente associada a esporão e bursite)

A tendinopatia envolve microlesões e inflamação inicial que, com o tempo, podem evoluir para um processo degenerativo, com espessamento do tendão e dor persistente.

Sinais e sintomas mais comuns

  • Dor atrás do tornozelo ou no calcanhar, pior pela manhã ou ao iniciar a atividade
  • Rigidez matinal que melhora ao longo do dia
  • Inchaço/espessamento local e sensibilidade ao toque
  • Dor ao subir escadas, correr, saltar ou após treinos mais intensos

Fatores de risco

  • Aumento súbito de treino (volume, intensidade, terrenos inclinados)
  • Tênis gastos ou inadequados
  • Alterações biomecânicas (pé cavo/prono, encurtamento de panturrilha)
  • Sobrepeso, idade acima de 35–40 anos
  • Doenças metabólicas (por exemplo, dislipidemia), tabagismo
  • Uso de alguns antibióticos (fluoroquinolonas) e estatinas em casos específicos

Como é feito o diagnóstico?

Geralmente é clínico, com exame físico. Em alguns casos, exames complementares ajudam:

  • Ultrassom com Doppler: avalia espessamento, fissuras e neovascularização
  • Ressonância magnética: útil em casos refratários, suspeita de rotura parcial ou para planejamento

Tratamentos: do básico ao avançado

O plano ideal combina educação do paciente, ajuste de carga, fisioterapia direcionada e, quando indicado, terapias intervencionistas. A escolha depende do local da lesão (porção média vs inserção), tempo de sintomas e nível de atividade.

1) Medidas iniciais essenciais

  • Ajuste da carga: reduzir impacto e volume, manter atividades sem dor (ex.: bike/ergômetro)
  • Gelo/analgésicos: para controle de dor nas fases agudas
  • Palmilhas e calçados: elevar discretamente o calcanhar (heel lift) pode aliviar tração
  • Educação: dor “controlada” durante a reabilitação pode ser aceitável, mas não deve piorar no dia seguinte

2) Fisioterapia com ênfase em exercícios

  • Exercícios excêntricos e/ou de força progressiva (protocolos tipo Alfredson, com adaptações)
  • Fortalecimento de panturrilha, glúteos e cadeia posterior
  • Mobilidade do tornozelo e alongamentos dos gastrocnêmios/solear quando indicados
  • Treino de retorno gradual à corrida/saltos, com progressão criteriosa

A reabilitação é o pilar do tratamento. Mesmo quando utilizamos terapias avançadas, o melhor resultado acontece quando combinadas a um programa de exercícios estruturado.


Ênfase em terapias avançadas

Abaixo, um panorama das opções que costumamos considerar na prática moderna, seus objetivos e pontos de atenção.

Infiltrações

“Infiltração” é um termo amplo. Existem diferentes substâncias e técnicas, cada uma com indicações específicas:

  • Corticoide: não é recomendado dentro do tendão (intratendínea) devido ao risco de enfraquecimento e ruptura. Em situações selecionadas, pode ser feito ao redor do tendão (peritendínea) ou em bursa associada, com orientação de imagem, buscando reduzir dor e inflamação. Deve ser usado com cautela e dentro de uma estratégia de reabilitação.
  • Plasma Rico em Plaquetas (PRP): utiliza componentes do próprio sangue para potencialmente estimular reparo tecidual. A evidência é variável na tendinopatia de Aquiles: alguns pacientes relatam melhora, outros não. A seleção de casos, técnica e protocolo de reabilitação pós-procedimento influenciam os resultados.
  • Ácido hialurônico peritendíneo: pode reduzir atrito e inflamação em algumas situações, principalmente em tendinopatia insercional ou quando há comprometimento de bainha/tecido ao redor.
  • Injeção de alto volume (salina + anestésico): visa romper neovasos e neoneurônios peritendíneos relacionados à dor. Normalmente guiada por ultrassom.
  • Proloterapia: soluções irritativas dextrose-base para estímulo reparador. Evidência ainda em evolução para Aquiles, usada em casos selecionados.

Em todas as infiltrações, a execução guiada por ultrassom aumenta a precisão e a segurança. É fundamental integrar a infiltração a um plano de exercícios e retorno progressivo à atividade.

Terapia por Ondas de Choque (ESWT)

  • Tipos: radial e focal; a escolha depende do caso.
  • Como age: estímulo biológico e neuromodulador que pode reduzir a dor, melhorar vascularização local e favorecer o reparo.
  • Protocolo: comumente de 3 a 6 sessões semanais, ajustando energia conforme tolerância e fase da lesão.
  • Evidência: boa para tendinopatia do Aquiles, sobretudo mid-portion; pode ser combinada com exercícios para potencializar resultados.
  • Recuperação: procedimento ambulatorial, sem necessidade de afastamento prolongado.

Laser de Alta Intensidade (HILT)

  • Como age: analgesia, modulação inflamatória e bioestimulação tecidual com maior profundidade quando comparado a lasers de baixa potência.
  • Indicações: dor persistente, fase subaguda ou crônica, como adjuvante à fisioterapia.
  • Benefícios: melhora da dor e função em curto prazo, o que permite engajar melhor no programa de exercícios.
  • Segurança: quando aplicado por equipe treinada e com parâmetros adequados, é bem tolerado.

Campo Magnético (Terapia por Campo Magnético Pulsado – PEMF)

  • Como age: campos eletromagnéticos pulsados que podem modular inflamação, dor e processos de cicatrização.
  • Papel clínico: adjuvante, especialmente em casos crônicos que respondem parcialmente apenas à fisioterapia. A evidência é promissora, mas ainda heterogênea; costuma ser integrada a um plano multimodal.

Outras opções e quando pensar em cirurgia

  • Reabilitação avançada com controle de carga, corridas intervaladas, pliometria progressiva
  • Técnicas percutâneas guiadas por imagem para tratar áreas degeneradas específicas
  • Cirurgia: reservada para casos refratários após tratamento bem conduzido por 6 a 12 meses, roturas parciais persistentes, calcificações insercionais importantes ou deformidades associadas. A decisão é individualizada.

Prevenção e retorno ao esporte

  • Aumente volume e intensidade de treinos gradualmente (regra dos 10% é um bom norte)
  • Fortaleça panturrilhas e estabilizadores de quadril
  • Faça transições cuidadosas de calçados e terrenos
  • Respeite a dor como sinal: ajuste antes que vire lesão
  • Na volta à corrida, priorize dias alternados e progressão guiada por profissional

Perguntas frequentes

  1. Quanto tempo leva para melhorar?
  • Varia de semanas a meses. Em tendinopatias crônicas, 3 a 6 meses é uma expectativa realista para retorno próximo ao pleno, quando o protocolo é seguido.
  1. Posso continuar correndo?
  • Em muitos casos, sim, com ajustes. A dor durante a atividade deve ser leve e não piorar no dia seguinte. O plano deve ser individualizado.
  1. Infiltração com corticoide é perigosa?
  • Dentro do tendão (intratendínea) não é recomendada por aumentar risco de ruptura. Em algumas situações peritendíneas ou bursais, sob ultrassom e com indicação precisa, pode ajudar na dor. A decisão é técnica e individual.
  1. Ondas de choque dói?
  • Pode gerar desconforto durante a aplicação, geralmente tolerável e de curta duração. Muitos pacientes relatam melhora progressiva após as primeiras sessões.
  1. Laser de alta intensidade queima?
  • Não. Quando aplicado corretamente, é seguro. A sensação é de calor moderado e alívio.
  1. Campo magnético funciona?
  • Pode ajudar como adjuvante. Os resultados variam conforme o perfil da lesão e o protocolo; tende a ser mais eficaz quando integrado à reabilitação.

Quando procurar ajuda

Se a dor persiste por mais de 2 a 4 semanas, há piora progressiva, limitação para atividades, ou se você suspeita de uma rotura (estalo súbito, incapacidade de ficar na ponta do pé), procure avaliação especializada.


Autor e clínica

Autor: Dr. Carlos Eugênio Silva Martins
Clínica: Northos – Núcleo Avançado de Ortopedia
Formação: Pós-graduado em Ortopedia e Traumatologia, Clínica da Dor, Intervenção em Dor.

Agende sua avaliação com um dos profissionais da Northos e receba um plano de tratamento personalizado, que pode incluir fisioterapia especializada, infiltrações guiadas por ultrassom, terapia por ondas de choque, laser de alta intensidade e campo magnético, conforme sua necessidade. Entre em contato pelos canais oficiais da clínica e marque sua consulta.