Ortopedia

Hérnia de disco lombar e ciatalgia: sintomas, tratamentos e como aliviar a dor de forma segura

Hérnia de Disco

A hérnia de disco lombar é uma causa frequente de dor nas costas com irradiação para a perna, conhecida como ciatalgia (ou “dor no nervo ciático”). A boa notícia é que a maioria dos casos melhora com tratamento correto, sem necessidade de cirurgia. Neste guia, explico de forma simples o que é a hérnia de disco, principais sintomas, quando procurar ajuda e quais são as opções de tratamento mais atuais — incluindo terapia por ondas de choque, laser de alta intensidade e campo magnético.

Aviso importante: Este conteúdo é informativo e não substitui uma consulta médica. Em situações específicas ou urgentes, busque avaliação presencial com um profissional habilitado.

O que é hérnia de disco lombar?

Entre as vértebras existem discos que funcionam como amortecedores. Com o tempo, esforço repetitivo ou um evento agudo, parte desse disco pode se deslocar para fora do lugar e comprimir raízes nervosas lombares (geralmente L4-L5 ou L5-S1). Essa compressão pode provocar dor lombar e dor que desce pela nádega e perna, formigamento, perda de força ou alteração da sensibilidade.

Sintomas mais comuns

  • Dor lombar que pode piorar ao sentar, tossir ou espirrar
  • Dor que irradia pela perna (ciatalgia), podendo chegar até o pé
  • Formigamento, choque, queimação ou “dormência”
  • Fraqueza para levantar o pé ou ficar na ponta do pé (em casos selecionados)
  • Piora noturna e limitação para atividades do dia a dia

Sinais de alerta que exigem atendimento imediato: perda de força progressiva, dificuldade para controlar urina ou fezes, dormência em “sela” (entre as pernas), febre ou dor após trauma importante.


Como é feito o diagnóstico?

  • Avaliação clínica completa com exame físico
  • Testes específicos (como elevação da perna estendida)
  • Exames de imagem em casos selecionados: ressonância magnética (padrão ouro), tomografia e radiografias para diagnóstico diferencial
  • Exames complementares (eletroneuromiografia) quando necessário

Na maior parte das vezes, o diagnóstico é clínico e a decisão de pedir exames depende da evolução e da presença de sinais neurológicos.


Tratamentos possíveis: do conservador ao cirúrgico

A grande maioria dos pacientes melhora com tratamento conservador em 6 a 12 semanas. A escolha da melhor combinação depende de avaliação individual.

1) Medidas iniciais e medicamentos

  • Educação e orientação postural: manter-se ativo dentro do limite da dor costuma ser melhor do que repouso prolongado
  • Analgésicos e anti-inflamatórios por curto período, quando indicados
  • Relaxantes musculares por poucos dias em crises com espasmo
  • Em alguns casos, curto curso de corticoide pode ser considerado Observação: o uso de medicamentos deve ser guiado por avaliação médica individual.

2) Fisioterapia baseada em evidências

  • Exercícios de mobilidade e “centralização” da dor (ex.: abordagem McKenzie) quando apropriado
  • Fortalecimento do core (musculatura abdominal, paravertebral e glútea)
  • Treino de estabilidade lombopélvica e alongamentos progressivos
  • Exercícios neurais (neural glides) para reduzir irritação do nervo
  • Condicionamento aeróbico de baixo impacto (caminhada, bicicleta ergométrica)

A fisioterapia é um dos pilares do tratamento e reduz recidivas a médio e longo prazo.

3) Procedimentos intervencionistas (em casos selecionados)

  • Infiltração peridural ou bloqueio radicular guiados por imagem: úteis para reduzir dor radicular intensa e permitir avanço na reabilitação
  • Radiofrequência pulsada da raiz dorsal: opção em casos refratários Esses procedimentos são indicados após avaliação criteriosa do quadro clínico e dos exames.

4) Cirurgia: quando considerar?

  • Déficit neurológico progressivo (piorando fraqueza)
  • Síndrome da cauda equina (emergência)
  • Dor incapacitante que não melhora com tratamento conservador bem conduzido por 6 a 12 semanas As técnicas atuais incluem microdiscectomia e discectomia endoscópica, com recuperação mais rápida em muitos casos. A decisão é sempre individualizada.

Terapias adjuvantes: ondas de choque, laser de alta intensidade e campo magnético

Essas tecnologias podem ser consideradas como complemento ao tratamento central (educação, fisioterapia e, quando necessário, intervenções). A indicação depende do perfil da dor, tempo de sintomas e achados ao exame.

Terapia por ondas de choque (ESWT)

  • O que é: aplicação de ondas acústicas de alta energia em pontos dolorosos e regiões musculotendíneas.
  • Para que pode ajudar: não “desfaz” a hérnia, mas pode reduzir componentes miofasciais associados à lombociatalgia, como trigger points paravertebrais, glúteos e síndrome do piriforme, o que frequentemente agrava a dor do ciático.
  • Evidência: estudos mostram benefício em certas dores musculoesqueléticas e lombalgia crônica; para ciatalgia por hérnia de disco, atua como adjuvante em casos selecionados.
  • Sessões: geralmente 3 a 6 sessões, 1 por semana, ajustadas à resposta clínica.
  • Cuidados: pode causar desconforto transitório; não é indicada em gestação, coagulopatias ou sobre áreas com implantes específicos sem avaliação.

Laser de alta intensidade (HILT)

  • O que é: laser terapêutico de alta potência com efeito analgésico, anti-inflamatório e de bioestimulação tecidual.
  • Benefícios potenciais: pode reduzir dor e rigidez no curto prazo, facilitando o avanço da fisioterapia.
  • Evidência: há indícios de alívio sintomático em lombalgia e radiculopatia em curto prazo; não substitui o plano de reabilitação.
  • Protocolo: sessões curtas, 1 a 2 vezes por semana, de acordo com a evolução.
  • Cuidados: evitar aplicação sobre áreas com sensibilidade reduzida, tumores, gestação sobre região lombar, e seguir parâmetros seguros de dose.

Campo magnético pulsado (PEMF)

  • O que é: exposição a campos eletromagnéticos pulsáteis com objetivo de modular dor e inflamação.
  • Benefícios potenciais: alguns estudos sugerem melhora da dor e função em lombalgia; a evidência é heterogênea e, por isso, deve ser usado como adjuvante.
  • Protocolo: sessões seriadas; resposta é individual.
  • Cuidados: avaliar contraindicações relativas como marcapassos e dispositivos eletrônicos implantáveis.

Resumo das terapias adjuvantes:

  • São complementares, não substituem fisioterapia ou o acompanhamento médico.
  • Podem acelerar o alívio da dor em perfis específicos, ajudando na progressão dos exercícios.
  • A indicação ideal requer exame clínico e, quando necessário, correlação com imagem.

Como aliviar a dor em casa (com segurança)

  • Mantenha movimentos leves e pausas ativas; evite repouso absoluto prolongado
  • Use calor local por 15 a 20 minutos para aliviar rigidez; gelo pode ajudar em crises mais agudas
  • Ajuste temporariamente atividades que pioram a dor (agachar com carga, torções bruscas)
  • Durma de lado com travesseiro entre os joelhos ou de barriga para cima com apoio sob os joelhos
  • Foque na progressão gradual, não em “zerar” a dor de um dia para o outro

Importante: exercícios e autocuidados devem ser personalizados após avaliação. Se houver piora significativa, procure atendimento.


Prevenção e retorno às atividades

  • Fortalecimento do core e glúteos 2 a 3 vezes por semana
  • Ergonomia no trabalho: altura de cadeira e tela, pausas a cada 50 a 60 minutos
  • Técnica correta para levantar pesos: coluna neutra, carga próxima ao corpo, uso de pernas
  • Condicionamento aeróbico regular
  • Controle de fatores de risco: tabagismo, sobrepeso e alto estresse

Perguntas frequentes (FAQ)

  1. Hérnia de disco “volta ao lugar” sozinha?
  • Muitas hérnias reduzem de tamanho com o tempo; o corpo pode reabsorver parte do material herniado. O foco é aliviar a dor, proteger o nervo e restaurar função.
  1. Preciso de cirurgia se tenho formigamento?
  • Nem sempre. Formigamento pode melhorar com tratamento conservador. Cirurgia é considerada quando há déficit neurológico progressivo ou dor incapacitante refratária.
  1. Ondas de choque “curam” a hérnia?
  • Não. Ajudam a tratar componentes musculares e miofasciais que agravam a dor, funcionando como adjuvante.
  1. Laser de alta intensidade é seguro?
  • Quando aplicado por profissionais treinados e com parâmetros adequados, tende a ser seguro. Há contraindicações específicas que serão avaliadas na consulta.
  1. O campo magnético tem comprovação?
  • A evidência é variável. Pode ajudar algumas pessoas como parte de um tratamento multimodal, mas não substitui as bases do cuidado (fisioterapia, educação e, quando indicado, intervenções).

Conclusão

A hérnia de disco lombar com ciatalgia costuma melhorar com um plano de cuidados bem estruturado: educação, fisioterapia baseada em evidências e, quando necessário, terapias adjuvantes e procedimentos minimamente invasivos. Tecnologias como ondas de choque, laser de alta intensidade e campo magnético podem ter papel complementar, sempre após avaliação individual.


Autor e clínica

Autor: Dr. Carlos Eugênio Silva Martins
Clínica: Northos – Núcleo Avançado de Ortopedia
Formação: Pós-graduado em Ortopedia e Traumatologia, Clínica da Dor e Intervenção em Dor.

Agende uma avaliação com um dos profissionais da Northos para receber um plano de tratamento personalizado e seguro para o seu caso. Estamos à disposição para ajudar você a retomar suas atividades com menos dor e mais qualidade de vida.