Autor: Dr. Carlos Eugênio Silva Martins
Clínica: Northos – Núcleo Avançado de Ortopedia
Pós-graduação: Ortopedia e Traumatologia, Clínica da Dor, Intervenção em Dor
Resumo do que você vai encontrar neste conteúdo
- O que é o hálux valgo (joanete) e por que ele aparece
- Principais sintomas e quando procurar ajuda
- Exames usados no diagnóstico
- Tratamentos não cirúrgicos (o que realmente ajuda)
- Quando a cirurgia é indicada e quais são as técnicas
- Recuperação pós-operatória: como é, tempos e cuidados
- Prevenção, mitos e verdades
- Perguntas frequentes respondidas de forma prática
- Como agendar sua avaliação com um dos profissionais da Northos
O que é o hálux valgo (joanete)?
Hálux valgo, conhecido popularmente como joanete, é uma deformidade em que o dedão do pé desvia em direção aos outros dedos, formando uma saliência na parte interna do pé. Essa proeminência pode inflamar, doer com o uso de calçados e dificultar atividades simples do dia a dia, como caminhar longas distâncias ou praticar exercícios.
Embora o uso de calçados apertados possa piorar o problema, o hálux valgo tem forte componente hereditário e pode estar associado a alterações do formato do pé (pé plano, hipermobilidade), fraqueza muscular, doenças inflamatórias (como artrite reumatoide) e, em alguns casos, ao joanete do adolescente.
Principais sintomas
- Dor na região interna do dedão, que piora com calçados apertados ou saltos
- Vermelhidão, inchaço e sensibilidade local
- Formação de calos e atrito na saliência
- Desvio do dedão e, às vezes, sobreposição sobre o segundo dedo
- Cansaço nos pés após esforços e dificuldade para encontrar calçado confortável
Se a dor é frequente, progressiva ou interfere na sua rotina, é hora de procurar avaliação com especialista.
Como é feito o diagnóstico
O diagnóstico é clínico e confirmado com radiografias do pé em carga (em pé). No exame físico avaliamos:
- Alinhamento do dedão e dos metatarsos
- Presença de calos, inflamação e sensibilidade
- Flexibilidade da deformidade (se corrige manualmente ou é rígida)
- Distribuição de carga na planta (metatarsalgia)
- Associadas: dedos em garra/martelo, joanete do quinto dedo
Nos raios-X, medimos ângulos (como HVA e IMA) que ajudam a classificar a gravidade e orientar o melhor tratamento, seja conservador ou cirúrgico.
Tratamentos não cirúrgicos (conservadores)
O objetivo é aliviar a dor, reduzir a inflamação e melhorar a função. Eles não “desentortam” o osso, mas podem controlar os sintomas e retardar a progressão.
- Calçados e ajustes
- Bico mais largo e tecido flexível na região do antepé
- Salto baixo (até 3–4 cm), sola estável e boa absorção de impacto
- Evitar sapatos rígidos e apertados na região do dedão
- Uso de protetores de joanete de silicone para reduzir o atrito
- Órteses e palmilhas
- Separadores de dedos (sobretudo à noite ou em repouso) para conforto
- Protetores/almofadas para diminuir pressão sobre a saliência
- Palmilhas personalizadas quando há alteração de arco (pé plano) ou sobrecarga no antepé
- Fisioterapia e exercícios
- Mobilidade do hálux e da cápsula articular
- Fortalecimento da musculatura intrínseca do pé e do arco plantar (ex.: “short foot”, pegar toalha com os dedos, abrir/espalhar os dedos)
- Treino de alinhamento, controle de carga e cadeia cinética (tornozelo-joelho-quadril)
- Técnicas de terapia manual e orientações de retorno gradual às atividades
- Controle da dor e inflamação
- Gelo após atividades dolorosas (10–15 minutos)
- Analgésicos e anti-inflamatórios quando indicados
- Em casos selecionados, infiltração pode ser considerada, mas não corrige a deformidade
- Hábitos e rotina
- Perda de peso quando necessário para reduzir a carga no antepé
- Troca de atividades de alto impacto por exercícios de menor impacto (bicicleta, natação, elíptico)
- Pausas durante o dia para alongar e mobilizar os pés
Quando o tratamento conservador é bem orientado e seguido, muitas pessoas relatam alívio significativo da dor e melhora da qualidade de vida.
Quando considerar cirurgia do joanete
A cirurgia é indicada quando:
- A dor persiste apesar de calçados adequados, palmilhas e fisioterapia
- A deformidade é progressiva e começa a limitar o dia a dia
- Há dificuldade para calçar sapatos comuns
- Existe sobrecarga importante no antepé (metatarsalgia) ou deformidades associadas dos dedos
- A articulação está rígida ou há sinais de degeneração
A decisão é individualizada após exame clínico e radiografias. O objetivo é alinhar o pé, redistribuir a carga e aliviar a dor.
Técnicas cirúrgicas mais utilizadas
A técnica é escolhida conforme a gravidade da deformidade, a flexibilidade articular, os ângulos no raio-X, a presença de hipermobilidade e as queixas associadas.
- Osteotomia distal (Chevron): comum em deformidades leves a moderadas
- Osteotomia diafisária (Scarf): versátil, permite correção sólida em casos moderados
- Osteotomia da falange (Akin): frequentemente associada para refinar o alinhamento do dedão
- Artrodese tarsometatarsal (Lapidus): indicada quando há hipermobilidade da base do primeiro metatarso e deformidades moderadas a severas
- Técnicas minimamente invasivas/percutâneas (MICA/PECA): realizadas por pequenas incisões, com menor agressão de tecidos; a indicação depende do padrão da deformidade e da experiência da equipe
- Correções associadas: realinhamento de sesamoides, tratamento de calos dolorosos e deformidades dos dedos menores quando necessário
Como é a cirurgia:
- Duração média: varia conforme a técnica e se há procedimentos associados
- Anestesia: geralmente regional com sedação
- Alta: em muitos casos no mesmo dia (day hospital), conforme avaliação médica
Riscos e possíveis complicações:
- Infecção, sangramento, dor persistente, rigidez articular
- Lesão nervosa, trombose (raro)
- Subcorreção, hipercorreção ou recidiva da deformidade
- Aderências, quelóide ou incômodo com o material de síntese A escolha correta da técnica, somada a uma boa reabilitação, reduz riscos e melhora os resultados.
Recuperação pós-operatória: o que esperar
Cada protocolo é individualizado, mas, de forma geral:
- Primeiras 1–2 semanas: pé elevado grande parte do tempo para reduzir inchaço; curativo protegido; deambulação com sandália pós-operatória (tipo Barouk) conforme orientação; controle de dor
- 2–6 semanas: manutenção da proteção e progressão do apoio conforme técnica; início ou avanço da fisioterapia (mobilidade, controle de edema, marcha assistida)
- 6–12 semanas: transição gradual para calçados largos e macios; fortalecimento; treino de marcha e equilíbrio
- Atividades: trabalho leve/escritório frequentemente entre 2–6 semanas; atividades mais intensas entre 8–12 semanas; esportes de impacto apenas após liberação médica
- Inchaço: melhora progressiva ao longo de 3–6 meses; resultado definitivo do contorno pode levar de 6–12 meses
A aderência às orientações, ao uso de calçados adequados e à fisioterapia é decisiva para uma boa recuperação.
Dá para prevenir o joanete?
- Prefira calçados com bico amplo e materiais flexíveis
- Reduza o uso prolongado de saltos altos
- Fortaleça os pés e alongue a cadeia posterior com regularidade
- Controle do peso corporal e alternância de atividades de impacto
- Observe o histórico familiar e busque avaliação precoce se notar desvio do dedão ou dor recorrente
Mitos e verdades sobre joanete
- “Palmilha corrige o osso desviado.” — Mito. Palmilhas aliviam sintomas e redistribuem carga, mas não reposicionam o osso.
- “Só quem usa salto tem joanete.” — Mito. Salto e bico fino podem piorar, mas genética e formato do pé têm grande influência.
- “Cirurgia é sempre necessária.” — Mito. Muitos casos melhoram com tratamento conservador bem orientado.
- “A cirurgia sempre dói muito.” — Parcial. Com protocolos modernos de anestesia, analgesia e técnica adequada, o controle de dor evoluiu muito.
- “Joanete volta sempre.” — Mito. Há risco de recidiva, mas a indicação correta e a técnica apropriada reduzem bastante essa chance.
Perguntas frequentes (FAQ)
- Joanete tem cura sem cirurgia?
Não há “cura” estrutural sem cirurgia, porque a deformidade óssea não se reposiciona sozinha. Porém, medidas conservadoras costumam aliviar muito os sintomas. - Quando devo operar?
Quando a dor e a limitação persistem apesar de calçados adequados, palmilhas e fisioterapia, ou quando a deformidade progride e atrapalha sua rotina. - A técnica minimamente invasiva é melhor?
Ela pode trazer vantagens (menor agressão tecidual), mas não é para todos os casos. A melhor técnica depende do seu exame, dos ângulos no raio-X e da experiência da equipe. - Quanto tempo para voltar a trabalhar?
Trabalhos de escritório costumam retornar entre 2 e 6 semanas, conforme técnica e evolução. Atividades físicas intensas exigem mais tempo. - Vou conseguir usar sapatos normais depois?
Esse é um dos objetivos principais. Calçados com bico amplo e materiais macios costumam ser bem tolerados após a recuperação. - E se meu segundo dedo estiver sobreposto?
Muitas vezes é possível tratar no mesmo procedimento, realinhando e equilibrando a carga do antepé. - Infiltração resolve joanete?
Pode aliviar dor inflamatória em casos selecionados, mas não corrige a deformidade óssea.
Se você sente dor no dedão do pé ou suspeita de joanete, agende uma avaliação com um dos profissionais da Northos — Núcleo Avançado de Ortopedia. Uma avaliação completa define a melhor estratégia para o seu caso, com foco em aliviar a dor e recuperar sua mobilidade. Estamos à disposição para ajudar.
Sobre o autor
Dr. Carlos Eugênio Silva Martins
Pós-graduado em Ortopedia e Traumatologia, Clínica da Dor e Intervenção em Dor
Northos – Núcleo Avançado de Ortopedia







