Ortopedia

Entorse de Tornozelo: sintomas, tratamento e quando buscar ajuda especializada

Entorse de Tornozelo

Conteúdo informativo voltado a pacientes. Não substitui consulta médica ou avaliação individualizada.

Resumo rápido

  • Entorse de tornozelo é uma lesão dos ligamentos que estabilizam a articulação.
  • A maioria melhora com tratamento convencional e reabilitação adequada.
  • Em casos selecionados, podem ser indicados procedimentos cirúrgicos ou terapias avançadas (ortobiológicos, ácido hialurônico, ondas de choque, laser de alta intensidade e campo magnético).
  • Procure avaliação se houver dor intensa, dificuldade para apoiar o pé, grande inchaço ou se os sintomas persistirem.

O que é entorse de tornozelo?

A entorse acontece quando os ligamentos do tornozelo sofrem estiramento além do limite normal, podendo ter pequenas rupturas (parciais) ou ruptura completa. É muito comum em esportes, escadas, pisos irregulares e “torções” do pé para fora (inversão).

  • Grau I: estiramento leve, dor e inchaço discretos; estabilidade preservada.
  • Grau II: lesão parcial do ligamento; dor moderada, inchaço e roxo (equimose); alguma instabilidade.
  • Grau III: ruptura completa do ligamento; dor mais intensa (às vezes menos com o tempo), inchaço importante e sensação de “falseio”.

Sintomas frequentes

  • Dor ao apoiar ou movimentar
  • Inchaço e roxos
  • Rigidez ou dificuldade de mobilidade
  • Sensação de instabilidade (“pé bambu”)
  • Estalos no momento da lesão

Quando procurar ajuda médica

  • Dor forte com dificuldade de apoiar o pé logo após a lesão
  • Grande inchaço imediato ou deformidade
  • Formigamento, perda de sensibilidade ou coloração anormal (sinal vascular/neurológico)
  • Dor persistente por mais de 7 a 10 dias
  • Episódios repetidos de “falseio” do tornozelo
  • Atletas ou pessoas com alta demanda funcional

As Regras de Ottawa ajudam a decidir sobre a necessidade de radiografia: sensibilidade em pontos ósseos específicos e incapacidade de dar 4 passos no momento da avaliação indicam investigação para descartar fraturas.

Diagnóstico

  • Avaliação clínica detalhada: local da dor, estabilidade, amplitude de movimento, testes ligamentares.
  • Exames de imagem:
    • Raios X: para descartar fraturas.
    • Ultrassom: útil para ligamentos e tendões.
    • Ressonância magnética: indicada em dor persistente, suspeita de lesões associadas (cartilagem, tendões, osteocondrais) e instabilidade crônica.

Tratamento convencional (não cirúrgico)

A grande maioria das entorses melhora com tratamento conservador bem conduzido. Abordagem prática e atualizada:

Fase inicial (primeiros 3 a 7 dias)

  • Proteção e carga conforme tolerado: evite movimentos que agravem a dor; muletas podem ajudar nos primeiros dias.
  • Gelo (crioterapia): 15 a 20 minutos, 3 a 5 vezes ao dia nos 2 a 3 primeiros dias, com proteção entre pele e gelo.
  • Compressão: bandagem elástica ou tornozeleira para controlar o inchaço.
  • Elevação: manter o tornozelo acima do nível do coração quando possível.
  • Analgésicos/anti-inflamatórios: conforme orientação médica, por curto período.
  • Imobilização curta: bota imobilizadora ou tornozeleira funcional em entorses moderadas a graves, evitando imobilizações prolongadas.

Reabilitação funcional (a partir de poucos dias, conforme dor)

  • Mobilidade suave: exercícios guiados para recuperar o movimento sem dor.
  • Fortalecimento: principalmente fibulares (peroneais), panturrilha e cadeia do quadril.
  • Propriocepção e equilíbrio: treinos em superfícies instáveis, essenciais para evitar novas torções.
  • Taping/tornozeleira: apoio temporário em retorno ao esporte.

Tempo de recuperação (estimado):

  • Grau I: 1 a 3 semanas
  • Grau II: 3 a 6 semanas
  • Grau III: 6 a 12 semanas (às vezes mais)

Critérios para retorno ao esporte/atividade:

  • Dor mínima ou ausente
  • Força e mobilidade próximas ao lado não lesionado
  • Bom controle neuromuscular (testes de salto, equilíbrio, mudanças de direção)

Quando considerar tratamento cirúrgico

A cirurgia não é a regra, mas pode ser indicada quando:

  • Instabilidade crônica após reabilitação adequada
  • Rupturas graves (grau III) com falha do tratamento conservador
  • Lesões combinadas (osteocondrais, tendíneas) confirmadas por imagem
  • Atletas de alto rendimento com necessidade de estabilidade ótima
  • Lesões por avulsão óssea que exigem fixação

Procedimentos mais comuns:

  • Reparação ligamentar (ex.: técnica de Broström-Gould)
  • Reconstrução ligamentar com enxerto em instabilidade crônica
  • Artroscopia para tratar lesões associadas (cartilagem, corpos livres)

Recuperação (varia conforme o caso e técnica):

  • Imobilização parcial nas primeiras semanas
  • Fisioterapia progressiva por 2 a 3 meses
  • Retorno a esportes de impacto em 3 a 6 meses, com acompanhamento

Riscos e cuidados:

  • Rigidez, dor residual, recidiva de instabilidade, trombose (raro), infecção (rara)
  • Reabilitação é tão importante quanto a cirurgia para o desfecho final

Terapias avançadas e complementares

Importante: as terapias abaixo podem auxiliar em dor e recuperação em situações selecionadas, especialmente em quadros persistentes ou associados (tendinopatias, lesões condrais). A indicação deve ser individualizada após avaliação.

Ortobiológicos (ex.: PRP – plasma rico em plaquetas)

  • O que são: derivados do próprio sangue do paciente, concentrando plaquetas e fatores de crescimento para modular inflamação e cicatrização.
  • Como podem ajudar: em algumas lesões ligamentares e tendíneas, bem como em dor persistente após entorse. Em entorses agudas de atletas, alguns estudos sugerem retorno mais rápido, mas os resultados são heterogêneos.
  • Sessões: geralmente 1 a 3 aplicações, conforme protocolo.
  • Segurança: boa, por ser material autólogo; eventuais dores locais temporárias.
  • Observação: evidência científica varia conforme o tipo de lesão e protocolo. Indicação caso a caso.

Ácido hialurônico (viscossuplementação)

  • Uso mais conhecido: dores articulares por artrose (joelho, quadril, tornozelo), melhora de lubrificação e sintomas.
  • No tornozelo pós-entorse: pode ser considerado em dor persistente relacionada a sinovite ou lesões condrais, não é rotina em entorse aguda simples.
  • Sessões: 1 a 3 aplicações, a depender do produto e objetivo.
  • Observação: indicação “off-label” em alguns cenários; decisão compartilhada médico-paciente.

Terapia por Ondas de Choque (ESWT)

  • Indicações mais consolidadas: tendinopatias (ex.: peroneais), fasciíte plantar.
  • No contexto de entorse: útil quando há dor crônica associada a tendões ou pontos de dor persistente; pode modular dor e estimular cicatrização.
  • Sessões: geralmente 3 a 5, semanais ou quinzenais.
  • Efeitos: desconforto breve durante aplicação, sem necessidade de anestesia na maioria dos casos.

Laser de Alta Intensidade (HILT)

  • Efeito: analgesia e biomodulação tecidual; pode auxiliar na redução de dor e edema, facilitando a reabilitação.
  • Protocolo: sessões seriadas, combinadas com fisioterapia ativa.
  • Evidência: promissora como adjuvante; resultados variam conforme protocolo e estágio da lesão.

Terapia com Campo Magnético (PEMF)

  • Efeito: pode contribuir para modulação inflamatória e cicatrização, com perfil de segurança favorável.
  • Indicação: quadros dolorosos persistentes e edema residual.
  • Evidência: em evolução; benefício clínico pode ser individual.

Essas terapias, quando bem indicadas e associadas a um programa de reabilitação funcional, podem acelerar a melhora e reduzir a dor em casos selecionados. A escolha depende do exame físico, dos achados de imagem e das metas do paciente (retorno ao esporte, trabalho, atividades diárias).

Prevenção de novas entorses

  • Fortalecimento de peroneais, panturrilha e glúteos
  • Treino proprioceptivo e de equilíbrio
  • Aquecimento e mobilidade antes do exercício
  • Calçados adequados para o esporte e terreno
  • Tornozeleiras funcionais ou taping em casos de instabilidade residual
  • Progressão gradual da carga e dos saltos/mudanças de direção

Perguntas frequentes (FAQ)

  1. Preciso fazer exame de imagem em toda entorse?
  • Nem sempre. Radiografia é indicada quando há suspeita de fratura (pelas Regras de Ottawa). Ultrassom e ressonância são úteis quando a dor persiste, há instabilidade ou suspeita de lesões associadas.
  1. Gelo ou calor?
  • Nas primeiras 48 a 72 horas, o gelo costuma ajudar a controlar dor e inchaço. O calor pode ser útil em fases mais tardias, antes de exercícios de mobilidade.
  1. Quanto tempo para voltar a correr?
  • Varia com o grau da entorse e a resposta à reabilitação. Em geral, 2 a 6 semanas para entorses leves a moderadas. Testes funcionais e ausência de dor orientam o retorno.
  1. Preciso operar?
  • A maioria não precisa. Cirurgia é indicada quando há instabilidade persistente, lesões associadas importantes ou falha do tratamento conservador.
  1. Ortobiológicos e ácido hialurônico funcionam para todos?
  • Não. Podem ajudar em situações específicas (dor persistente, lesões tendíneas/condrais, instabilidade crônica), mas a indicação é individualizada e a evidência varia.

Chamada para ação

Se você teve uma entorse de tornozelo ou convive com dor e “falseios” ao caminhar ou praticar esportes, agende uma avaliação com um dos profissionais da Northos – Núcleo Avançado de Ortopedia. Nossa equipe pode orientar o melhor plano de tratamento para o seu caso, do manejo convencional às terapias avançadas, com foco em reabilitação funcional e retorno seguro às suas atividades.

Sobre o autor

Autor: Dr. Carlos Eugênio Silva Martins
Clínica: Northos – Núcleo Avançado de Ortopedia
Formação: Pós-graduado em Ortopedia e Traumatologia, Clínica da Dor e Intervenção em Dor.