Ortopedia

Sarcopenia: o que é, sintomas, causas, diagnóstico, tratamento e prevenção

idosos realizando treino de força para sarcopenia com acompanhamento profissional

O que é sarcopenia

A sarcopenia é uma condição caracterizada pela redução da massa muscular associada à queda da força e do desempenho físico. Vai muito além de “perder músculo com a idade”: envolve mudanças na qualidade do tecido muscular, na coordenação neuromuscular e na capacidade funcional, aumentando risco de quedas, fraturas, hospitalizações e perda de independência.

Embora seja mais frequente em pessoas idosas, a sarcopenia pode surgir precocemente em casos de sedentarismo, imobilização, má nutrição, inflamação crônica, doenças endócrinas e após internações ou cirurgias.


Principais sinais e sintomas

  • Diminuição da força para atividades do dia a dia (abrir potes, levantar-se da cadeira, subir escadas)
  • Redução do volume muscular aparente, especialmente em coxas e braços
  • Marcha mais lenta, passos curtos, desequilíbrio
  • Cansaço desproporcional a esforços leves
  • Perda de peso não intencional, sobretudo massa magra
  • Quedas recorrentes ou medo de cair

Sinais de alerta: se levantar e sentar da cadeira sem usar as mãos ficou difícil, ou se abrir uma garrafa parece “pesado”, é hora de investigar.


Causas e fatores de risco

  • Envelhecimento e alterações hormonais
  • Sedentarismo e imobilização prolongada
  • Ingestão proteica inadequada ou dieta pobre em calorias e micronutrientes
  • Doenças crônicas: doenças cardiovasculares, diabetes, DPOC, insuficiências renal e hepática, câncer
  • Inflamação crônica e estresse oxidativo
  • Deficiências de vitamina D e outros micronutrientes
  • Tabagismo e consumo excessivo de álcool
  • Uso de certos medicamentos (ex.: corticoides, alguns sedativos), quando crônicos

Como é feito o diagnóstico

A avaliação clínica integra força, massa/qualidade muscular e desempenho físico.

  • Triagem: questionário SARC-F (força, auxílio para caminhar, levantar-se de cadeira, subir escadas, quedas) para estimar risco.
  • Força muscular: geralmente medida por dinamômetro de preensão manual ou teste de levantar da cadeira.
  • Massa muscular: estimada por DXA ou BIA, com análise de massa magra apendicular.
  • Desempenho físico: velocidade de marcha, teste Timed Up and Go, teste de caminhada de 6 minutos, entre outros.

Diretrizes atuais recomendam considerar baixa força como critério central, confirmando com baixa quantidade ou qualidade muscular e graduando a gravidade conforme o desempenho físico.


Tratamento e manejo baseado em evidências

  1. Treinamento de força (resistência)
    • Frequência: 2 a 3 vezes por semana, em dias alternados.
    • Intensidade: progressiva, com foco em grandes grupos musculares (membros inferiores, tronco, membros superiores).
    • Volume sugerido: 2 a 3 séries por exercício, 6 a 12 repetições, ajustando a carga para que as últimas repetições sejam desafiadoras com técnica adequada.
    • Inclua potência muscular: movimentos controlados na descida e mais rápidos na subida, respeitando segurança.
    • Exercícios funcionais: sentar e levantar, step-ups, subida de escadas, puxar e empurrar.
  2. Treinamento complementar
    • Equilíbrio e propriocepção: apoio unipodal, tandem, exercícios em superfícies estáveis e seguras.
    • Treino aeróbico moderado: 150 minutos semanais divididos, conforme tolerância, para saúde cardiometabólica.
    • Alongamento e mobilidade: manter amplitude e conforto articular.
  3. Nutrição
    • Proteína diária: costuma-se orientar algo entre 1,0 e 1,5 g por kg de peso por dia para idosos, conforme avaliação individual e comorbidades.
    • Distribuição por refeição: favorecer alvos de leucina em cada refeição (ex.: laticínios, ovos, carnes magras, leguminosas).
    • Energia suficiente: evitar déficit calórico crônico que acelere a perda de massa magra.
    • Micronutrientes: checar vitamina D e outros, corrigindo deficiências.
    • Suplementos: creatina monohidratada e HMB podem ser considerados adjuvantes ao treino de força em casos selecionados, com acompanhamento profissional.
  4. Manejo de comorbidades e estilo de vida
    • Otimizar controle de doenças crônicas e revisar medicamentos que possam impactar massa e função muscular.
    • Sono e ritmos: dormir bem ajuda na recuperação muscular.
    • Redução de álcool e cessação do tabagismo.
  5. Segurança
    • Avaliação médica prévia para programas de exercício em indivíduos com doenças ou limitações.
    • Progressão gradual e técnica correta para prevenir lesões.
    • Em casos de dor, inchaço ou perda funcional aguda, interromper e reavaliar.

Prevenção da sarcopenia

  • Comece cedo com treino de força regular ao longo da vida.
  • Mantenha ingestão proteica adequada, distribuída nas refeições.
  • Evite longos períodos de inatividade; levante-se a cada 30 a 60 minutos.
  • Faça check-ups periódicos e trate comorbidades.
  • Exponha-se ao sol com segurança e monitore vitamina D conforme orientação profissional.

Sarcopenia tem cura?

Falamos em controle e reversão parcial: é possível recuperar força e melhorar o desempenho físico com programa estruturado de exercícios e nutrição adequada. A resposta é significativa, especialmente quando a intervenção é precoce e consistente.


Quando procurar um especialista

  • Quedas recentes, medo de cair ou marcha mais lenta
  • Perda de peso e força sem explicação
  • Dificuldade crescente para tarefas simples (levantar da cadeira, subir escadas)
  • Após internações, imobilizações ou cirurgias
    Uma avaliação com ortopedista, geriatra e equipe multidisciplinar (fisioterapeuta, educador físico, nutricionista) acelera diagnóstico e tratamento.

Perguntas frequentes (FAQ)

  1. O que diferencia sarcopenia de dinapenia?
    • Sarcopenia envolve perda de massa e função muscular; dinapenia refere-se principalmente à perda de força, independentemente da massa.
  2. Como medir sarcopenia em casa?
    • A triagem pode ser feita com SARC-F e testes simples como levantar da cadeira sem usar as mãos, mas o diagnóstico requer avaliação clínica e, idealmente, medidas objetivas.
  3. Quais são os melhores exercícios para sarcopenia?
    • Treino de força com cargas progressivas, priorizando membros inferiores e exercícios funcionais. Potência e equilíbrio complementam os ganhos.
  4. Qual a melhor proteína para sarcopenia?
    • Fontes com alto teor de leucina (leite e derivados, ovos, carnes magras) e boas combinações de vegetais (leguminosas com cereais). Suplementos são adjuvantes, não substitutos da alimentação.
  5. Em quanto tempo vejo resultados?
    • Em geral, 8 a 12 semanas de treino e nutrição consistentes trazem ganhos perceptíveis de força e função, com progressos contínuos a médio prazo.
  6. Sarcopenia é a mesma coisa que fraqueza por sedentarismo?
    • Não. O sedentarismo contribui, mas a sarcopenia tem componentes estruturais e funcionais específicos que exigem abordagem dirigida.

Exemplos práticos de exercícios seguros para iniciar

  • Sentar e levantar da cadeira: 2 séries de 8 a 12 repetições
  • Elevação de panturrilhas em pé segurando apoio: 2 séries de 12 a 15 repetições
  • Remada elástica sentada: 2 séries de 10 a 12 repetições
  • Agachamento parcial assistido: 2 séries de 8 a 10 repetições
  • Caminhada rápida 10 a 20 minutos, 3 a 5 vezes por semana
    Progredir volume ou carga conforme tolerância e orientação profissional.

Dicas de implementação nutricional

  • Distribua proteína em 3 a 4 refeições, incluindo café da manhã proteico.
  • Combine fontes animais e vegetais para ampliar o perfil de aminoácidos.
  • Inclua laticínios fermentados para proteína e saúde intestinal.
  • Hidratação adequada e ingestão de frutas, verduras e legumes diariamente.
  • Reavalie necessidades com nutricionista, principalmente se houver perda de peso ou dificuldades alimentares.

Conclusão

A sarcopenia não é um destino inevitável do envelhecimento. Com diagnóstico oportuno, treino de força estruturado, nutrição adequada e controle de comorbidades, é possível recuperar capacidade funcional, reduzir o risco de quedas e preservar a autonomia. A prevenção começa hoje.


Referências e diretrizes para leitura adicional

  • EWGSOP2 – European Working Group on Sarcopenia in Older People: revisão de definição e diagnóstico.
    pubmed.ncbi.nlm.nih.gov
  • AWGS (Asian Working Group for Sarcopenia) – recomendações atualizadas.
    pubmed.ncbi.nlm.nih.gov
  • OMS – Envelhecimento saudável e função intrínseca.
    www.who.int

Editado por Dr. Carlos Eugênio Silva Martins